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Necessidades profundas forcaram a imigração alemã

Necessidades profundas fizeram as pessoas deixarem a sua terra no século 19

 

A imigração alemã no Brasil está vivendo momentos históricos. Pela primeira vez em 185 anos de história da imigração no Brasil um Parlamento estadual da Alemanha se ocupa do tema, em sessão solene. Jornal alemão retrata fato histórico em página inteira.


Jacob Voltz Fº (1859) filho de Jacob Voltz e Wilhemine Weber, casou com Catarina Schenkel (1860) filha de Johann Schenkel (1805) e Catharina Kemp (1815), nascidos em Hinzweiler, Rheinland-Pfalz, imigraram para o Brasil em 1861. Eis as raízes da familia Voltz em relação ao estado da Renânia-Palatinado (Rheinland-Pfalz)


O jornal oficial Staatszeitung Rheinland-Pfalz (Jornal Estatal da Renânia-Palatinado) de 31 de agosto de 2009 fez um relato pormenorizado de toda a sessão, de várias horas, que contou com a participação de historiadores e outros especialistas - entre eles, o diretor do Instituto Martius-Staden, de São Paulo, o maior centro de documentação da imigração alemã na América Latina, Eckhard E. Kupfer. A seus colaboradores diretos devemos também a gentileza da versão brasileira, que lhe apresentamos a seguir, sob o título acima e com os subtítulos: Evento de palestras ocupou-se com a emigração para o Brasil – A Assembléia Legislativa vai continuar a se ocupar com o tema.

A versão brasileira da página original (para acessá-la, clique aqui! Caso apareça apenas uma imagem indefinida, clique nela e a seguir no símbolo sobreposto) chega em boa hora, isto é, justamente no momento em que uma delegação de 35 políticos e empresários do Estado da Renânia-Palatinado visita, sob a liderança do presidente do Parlamento Estadual, Joachim Mertes, de 3 a 5 de novembro, o Estado do Rio Grande do Sul, procedente de Buenos Aires e com destino a São Paulo, antes do retorno à Alemanha no fim-de-semana. Em Porto Alegre e no interior do RS, a delegação faz contatos políticos e econômicos, realiza rodadas de negociações, assina uma Carta de Intenções com a Assembleia Legislativa do RS e conhece aspectos da colonização alemã, percorrendo trajetos da Estrada Romântica até Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha.


Confira a seguir a íntegra da reportagem da sessão histórica no Parlamento em Mainz/Mogúncia, capital do Estado da Renânia-Palatinado, que engloba a região do Hunsrück, de forte emigração, no Centro-Oeste da Alemanha:

Até então era mais um assunto para especialistas, que em função de suas histórias de família têm uma ligação pessoal com o tema. Quando no século 19 muitas pessoas deixaram para sempre a Alemanha devido a profundas dificuldades econômicas, os emigrantes do Hunsrück e do Palatinado fundaram novas colônias preferencialmente no sul do Brasil.

 
Os contatos que se desenvolveram nos últimos anos e décadas entre os grupos e comunidades de descendentes de alemães no Brasil e a região de seus ancestrais na atual Renânia-Palatinado, foram levados ao conhecimento público pelo presidente da Assembléia Legislativa, Joachim Mertes, em evento de palestras na Assembléia Legislativa.

Uma sala de plenário lotada e muitos lugares ocupados nas galerias comprovaram isto no evento “A emigração da atual região da Renânia-Palatinado para o Brasil”. É notável quantas pessoas na Renânia-Palatinado se dedicam ao tema e através de muito engajamento pessoal mantêm contato com os descendentes alemães, os quais desde o início e em muitos casos até hoje preservam suas heranças alemãs.

Isto fica evidente inclusive pela preservação do dialeto de sua região de origem. Mas “a emigração não era uma viagem de férias romântica, e sim, as pessoas sentiam-se pressionadas ante seu desnível social”, explicou Mertes em seu discurso de boas-vindas, e deste modo partiam em suas difíceis viagens para o continente americano.

Conseguir o dinheiro para a passagem de navio já era um problema para os candidatos à emigração, comenta o presidente da Assembléia, citando um exemplo de sua região natal de Buch. Lá a comunidade, através do desmatamento de áreas florestais, ajudava o emigrante a reunir recursos suficientes – até hoje tais corredores são denominados “Brasilia”.

Mertes referiu-se às exposições em algumas instituições na Renânia-Palatinado que se dedicam à emigração desta região, como por exemplo, o Museu de Emigração em Oberalben e o Hunsrück-Museum em Simmern, “mas há também cooperação de outros museus na recuperação da história”, destaca Mertes.

Em 2009 é lembrado o 185º aniversário da primeira onda de emigração para o Brasil ocorrida no ano de 1824. Mertes cumprimentou oito conferencistas que discursaram sobre os diferentes aspectos da história da emigração e da preservação dos atuais contatos teuto-brasileiros, bem como diversos outros convidados, entre eles o Cônsul-Geral Cézar Amaral. 

Roland Paul do “Institut für pfälzische Geschichte und Volkskunde” (Instituto para a História do Palatinado e Folclore) em Kaiserslautern destacou que no século 19 ao todo 1.600 pessoas de 352 aldeias, mas também de algumas cidades da atual Renânia-Palatinado iniciaram sua viagem sem volta para o Brasil. O primeiro período desta onda emigratória terminou seis anos após seu início, no ano de 1830, um segundo seguiu-se em meados dos anos 40 no século 19.

“Muitas vezes os recém-chegados ficavam decepcionados com o que encontravam”, afirmou Paul, pois o auxílio e os privilégios do estado brasileiro, prometidos pelos recrutadores, não ocorriam na maioria das vezes.

A imigração alemã concentrou-se desde o início nos estados mais ao sul, como Santa Catarina, mas sobre tudo no Rio Grande do Sul com sua capital, Porto Alegre. Ao todo 7.000 alemães se fixaram nesta região até 1830.

Muitos se deram bem economicamente, pois podiam vender determinados produtos agrícolas sem a incidência de impostos e tinham muitos compradores em Porto Alegre.   O plantio do café não era permitido, mas milho, feijão, tabaco, melão e laranjas também proporcionavam bons rendimentos. “Pior era a situação daqueles, que tinham que ir para a mata”, descreveu Paul. Aqui, entre outros, as disputas com os índios dificultavam a vida.

Paul estima em cerca de quatro milhões o número de brasileiros descendentes de alemães, 450.000 pessoas no Rio Grande do Sul falariam alemão, sobre tudo um dialeto do Palatinado (westpfälzisch) e do Hunsrück. Nos costumes, mas principalmente na preservação das canções populares, espelha-se a vontade dos brasileiros descendentes de alemães em preservar suas raízes.

Do lado alemão isto é feito com mais ênfase pelas pessoas da região do Hunsrück, diz Paul. De acordo com o orador, um grande incentivo para promover maiores contatos entre a Renânia-Palatinado e o Brasil foi dado durante as comemorações do sesquicentenário da imigração alemã no ano de 1974 pelo na época ministro da cultura Bernhard Vogel.

Hoje em dia não é possível imaginar o relacionamento com o Brasil sem considerar as muitas pessoas na Renânia-Palatinado, que ao pesquisarem sobre seus antepassados, se deparam com a(s) história(s) da emigração. Várias iniciativas apresentaram seus trabalhos na Assembléia Legislativa.

O prefeito da Verbandsgemeinde (comunidade) de Rheinböllen, Franz-Josef Lauer, é um dos incentivadores dos contatos, que os “Brasilienfreunde Rheinböllen” (Amigos do Brasil de Rheinböllen) mantêm para com a América do Sul. “Dos cerca de 2.000 moradores, 114 almas emigraram para o Brasil no ano de 1848”, disse Lauer, explicando a importância para a cidade alemã deste êxodo em massa. “Eles encontraram sua felicidade no Brasil? Eu acredito que sim”, disse ele.

A visita de um coral masculino de Porto Alegre e de um grupo de danças folclóricas justificou no início dos anos 1990 uma intensificação dos contatos para o Rio Grande do Sul. Na cidade de Passo Fundo os “Amigos do Brasil” inauguraram, por ocasião de uma viagem, um monumento que lembra as raízes alemãs de uma parte considerável da população deste estado.

Em uma visita mais recente Lauer constatou que os conhecimentos da língua alemã entre os integrantes mais novos das gerações de descendentes estão diminuindo consideravelmente. “Se o estado, a nação e o Instituto Goethe nesta região se engajassem mais, isto seria muito bom” finalizou o prefeito o seu discurso.

Uma relação nova totalmente pessoal entre a região do Hunsrück e o sul do Brasil foi descrita por Klaus Fröhlich de Damscheid. Seu filho Peter vive hoje no Brasil, onde cria seu filho junto com sua esposa de origem alemã. Esta é uma união familiar bastante peculiar, pois ambos têm um ancestral em comum: Wilhelm Fröhlich, que viveu até 1818 em Spabrücken. Johann, seu filho, emigrou em 1852 com mulher e filhos para o Brasil.

Klaus Fröhlich, interessado na pesquisa genealógica, viajou pela primeira vez para o Brasil em 1994 junto com uma delegação do Hunsrück. Lá ele constatou que hoje em dia seu nome de família existe aproximadamente 3.000 vezes – inclusive há encontros dos Fröhlich.  Klaus Fröhlich esteve até diante das ruínas do casebre e do túmulo de seus ancestrais.

Um membro do coral brasileiro “Espresso 25” que visitou o Hunsrück em 2006, também era descendente do imigrante Johann Fröhlich. É obvio que houve um encontro de família onde Renata e Peter se conheceram. “Ele se apaixonou de imediato”, contou o pai Klaus.

Em Hargesheim o grupo regional Rhein-Nahe-Hunsrück da “Westdeutsche Gesellschaft für Familienkunde” (Sociedade de Genealogia Alemã-Ocidental) encontra-se regularmente e Sabine Borlinghaus relatou sobre o trabalho desta sociedade. Contando com a participação do especialista Manfred Lehwalter de Bingen-Dromersheim, o grupo analisa entre outros, as listas de passageiros dos navios que faziam o transporte dos emigrantes.

Estas muitas vezes, no entanto, estão escritas de forma ilegível e mesmo o conteúdo não é sempre confiável. Alguns nomes de aldeias de origem foram escritos de maneira errada devido ao dialeto dos imigrantes, o que dificulta a pesquisa ou até mesmo leva a pistas errôneas, relatou Borlinghaus. Contudo: “É evidente que cada pessoa desta região, que ainda não encontrou parentes no Brasil, só não pesquisou o suficiente”, descreveu ela sua impressão sobre as múltiplas relações em especial as do Hunsrück para com a América do Sul.

Resultados bem especiais foram apresentados pelas atividades do “Verein der Brasilienfreunde Simmern” (Associação dos Amigos do Brasil de Simmern) que é apoiado e dirigido pelo “Volksbank Hunsrück-Nahe” (Banco popular de Hunsrück-Nahe) e seu conselheiro Otto Mayer. Uma obra de 2000 páginas publicada há alguns anos em português e alemão, aborda todos os aspectos imagináveis do relacionamento entre o Hunsrück e os descendentes de alemães no Brasil. 

Atualmente a obra completa está digitalizada em três DVDs sem proteção para cópia e está disponível também no arquivo da Assembléia Legislativa, pois Mayer entregou a mesma ao seu presidente, Joachim Mertes. As informações aparecem nos dois idiomas paralelamente.

Mayer não teve dificuldades de comunicação em suas viagens para o Brasil, como destacou. “Eu não falo português, mas falo “Hunsrück-Platt” (dialeto do Hunsrück) e com isso me comuniquei.”

Norbert Esser apresentou a “Partnerschaft Sponheim-São Lourenço” (Parceria Sponheim-São Lourenço). Em sua comunidade de Rüdesheim a pesquisa genealógica sobre as pessoas que emigraram para o Brasil não era comum. “De repente havia uma pessoa de São Lourenço diante de nossa igreja de mais de 1000 anos de idade”, contou Esser. A construção serviu como primeiro ponto de referência para a pesquisa genealógica, pois o descendente do emigrante a conhecia através de cartão postal.

A pesquisa mostrando ao visitante a ligação com sua cidade natal no Brasil, não representou um grande desafio ao historiador da aldeia, Erich Schauss. Resultaram até hoje desse encontro promissor sete viagens de grupos de cidadãos de Sponheim para a nova pátria de seus emigrantes. Grupos de São Lorenço visitaram Sponheim em duas ocasiões.  

No ano de 1994 os cidadãos de Sponheim formalizaram seu trabalho através da fundação da associação “Partnerschaft” (Parceria). Ela resultou em permanente auxílio financeiro para a região brasileira, na qual até hoje já foram investidos cercade 200.000 Euros dos cidadãos de Sponheim. “Um valor considerável para um vilarejo de 850 almas”, acredita Esser.

Também os brasileiros dão a sua contribuição para a pesquisa sobre a história da imigração alemã e da cultura alemã no Brasil. O diretor Eckhard Kupfer discorreu sobre a evolução do Instituto Martius-Staden e o que o mesmo tem a oferecer, instituto este que tem suas raízes na fundação de uma associação de professores da Escola Alemã de São Paulo, no ano de 1916. “A associação era originalmente um pequeno sindicato e se ocupava com assuntos como seguro-saúde para os professores e organizava as viagens de volta para aqueles que desejavam retornar para sua pátria”, explica Kupfer.

Desde 1925 são reunidos documentos em São Paulo que dão prova da influência alemã no Brasil. Ensino de línguas – tanto “alemão para brasileiros” como também “português para alemães” logo fizeram parte do programa. A biblioteca com seus 40.000 volumes representa hoje o maior acervo de literatura sobre a imigração alemã no Brasil. Desde 1956 existem também os anuários, que permitem uma visão geral muita boa sobre o desenvolvimento.

A palavra final sobre a contribuição dos discursos foi dada pelo professor Franz-Josef Felten do “Institut für Geschichtliche Landeskunde Mainz” (Instituto Histórico-Geográfico de Mainz). “Eu estou surpreso com a diversidade das atividades” confessou ele. Ele sugeriu uma consulta ao portal de internet “regionalgeschichte.net” publicado pelo instituto, concebido de forma a permitir a inserção de páginas com apresentações e informações também por leigos.

Fotos:

Peças de exposição que encontraram seu caminho de volta para a antiga pátria.

Também o Cônsul-Geral do Brasil, Cézar Amaral (3. da direita), esteve entre os convidados do evento de palestras cumprimentados pelo presidente da Assembléia Legislativa, Joachim Mertes. Nossa foto mostra também da direita para a esquerda, Eckhard Kupfer do Instituto Martius-Staden de São Paulo, Conde Carlos Frederico Schaffgotsch, Conselho do Centro Cultural Brasileiro de Frankfurt, Roland Paul do “Institut für pfälzische Geschichte und Volkskunde” (Instituto para a História do Palatinado e Folclore) e os deputados estaduais Hans-Josef Bracht (CDU) und Manfred Geis (SPD).

Necessidades extremas obrigaram muitas pessoas a emigrarem no século 19. Uma sala de plenário lotada e muitos lugares ocupados nas galerias comprovaram isto no evento “A emigração da atual região da Renânia-Palatinado para o Brasil”. É notável quantas pessaos na Renânia-Palatinado se dedicam ao tema e através de muito engajamento pessoal mantém contato com os descendentes alemães, os quais desde o início e em muitos casos até hoje preservam suas heranças alemãs. Fotos: Klaus Benz

Com o término das apresentações o evento ainda não estava encerrado: continuou no foyer da Assembléia Legislativa com uma pequena comemoração de todos os visitantes, que podiam examinar tabelas informativas e peças de exposição referentes ao tema. Os ouvintes foram acompanhados até lá pelos “Neue Wandermusikanten” (Novos Músicos Itinerantes) de Kusel, que já haviam proporcionado um fundo musical de elevado nível durante o evento na sala de plenário.

Fonte: Staatszeitung Rheinland-Pfalz - 31.08.2009
Enviada por Lauer, Franz-Josef  - fjlauer@rheinboellen.de, repassada por Sigmar Klumb - sklumb@terra.com.br

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