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Veterano da FEB

OS 70 ANOS DA II GUERRA. O olhar gaúcho sobre o conflito. Veterano da Força Expedicionária Brasileira diz que lado humano das nossas tropas pesou na hora da rendição de divisão alemã. Para Paulo Nunes da Silva, 86 anos, a rendição foi uma escolha.


Na versão do veterano da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Paulo Nunes da Silva, 86 anos, a II Guerra Mundial – que há 70 anos registrava sua batalha inicial – ganha um capítulo que não está nos livros de história. Para ele, a rendição de uma divisão alemã às tropas brasileiras que estavam na Itália foi uma escolha.

Hoje, quando fala sobre o conflito, o gaúcho faz questão de não lembrar das cifras, das datas, dos lugares exatos e de todo detalhe capaz de despertar as lembranças amargas. Prefere não falar sobre o sofrimento trazido pela guerra que teve sua primeira batalha no dia 1º de setembro de 1939 e se arrastou até 1945, deixando cerca de 50 milhões de pessoas mortas.

Mais do que isso, evita lembrar dos horrores perpetrados durante o maior confronto armado da história da humanidade: a tirania nazista de Adolf Hitler, os cerca de 6 milhões de judeus e outras minorias dizimadas no Holocausto e as bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Mas Silva não esquece da impressão que teve ao testemunhar a rendição de uma divisão alemã.

– Eu vi a organização do exército deles. Tinham muito mais material, muito mais apetrechos, principalmente da área médica, do que nós. Coisas maravilhosas, de última geração.

Diante de tamanha estrutura fez sua própria leitura da rendição:

– A organização que ficava por trás do exército alemão tinha determinado para o regimento que se entregasse. Eles não se renderam por terem sido pressionados, mas por determinação.

O veterano também acredita que a ordem ia mais além: a rendição deveria ser feita, especificamente, para as tropas do Brasil. O motivo estaria em uma característica marcante da FEB.

– Nossas tropas, segundo a visão dos alemães, eram muito mais humanas do que as americanas. Eles receberam ordens de se entregar para nós – argumenta.

Para o pracinha Sezefredo Marcondes Castilhos, 87 anos, a ideia também faz sentido. O gaúcho de Carazinho, que hoje mantém na garagem de casa seu QG particular de memórias da II Guerra, trabalhou no Depósito de Pessoal da FEB, em Staffoli, e no Hospital de Convalescentes de Montecatini Terme e atesta que as nossas tropas eram reconhecidas por suas benevolência.

– A gente fazia o bem. Apesar de estar lá para matar ou morrer, éramos humanos.

Ações como as que o próprio Castilhos realizou enquanto esteve na Itália certamente contribuíram para que os nossos combatentes fossem lembrados de uma maneira diferente.

– Muitas vezes fui para a minha barraca comer a “ração” fria que ganhávamos porque dava praticamente toda minha comida – lembra Castilhos.

Silva, o único de sete irmãos a optar pela vida militar, hoje se define como um soldado da paz – atua há 37 anos como voluntário do Centro de Valorização da Vida. Talvez por isso evite tanto falar do sofrimento vivido no front italiano. Os olhos cheios d’água e o silêncio surgem como resposta para perguntas como “o senhor teve de apertar o gatilho?”, “como fez para encarar as temperaturas negativas do continente europeu?”.

Na teoria, o bageense que preparava futuros integrantes da FEB, não iria para o campo de batalha. Na prática, foi vencido pelo espírito de equipe :

– Vi um outro sargento, que tocava clarinete e ia para guerra, colocar o instrumento na mochila que carregaria consigo o tempo todo. O indivíduo indo para a batalha e se preparando para tocar clarinete? Essa coisa ilógica despertou algo em mim. Não posso dizer com clareza o quê. Acho que foi companheirismo – confidencia.

Mas a dureza do confronto que se desenhou na sua frente em terras italianas o deixou com uma certeza:

– A coisa mais absurda e incoerente do ser humano é a guerra .

Fonte: www.zerohora.com - Porto Alegre, RS - 30 08 2009

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